domingo, 24 de maio de 2009

Partis-te

Partis-te.



Perante a estática visão que tinhas do mundo, partis-te.



Foste embora parado e eu não te vi, de tão lento que foste...






Mas o mundo não parou, não caiu da sua órbita, não se desfez em lágrimas. Ficou só ali parado comigo, bocejando de tédio. E fiquei eu presa na imobilidade da tua partida.






Caiu-me o coração do peito já tao seco de suspiros e Deus, como se não visse, não o apanhou.



Partis-te tu, partiu-se o meu coração e da partida só a saudade chegou.






sexta-feira, 8 de maio de 2009

"Sem remédio"
Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.

E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!

Sinto os passos de Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!

E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!

Florbela Espanca

Reflexo

Espelhava a janela, o lado de dentro, o lado de cá. No meio de uma luz difusa e de uns vidros
com dedadas, distingue-se alguém que escreve e olha para si mesmo, como se não se reconhecesse.

Espelha a janela o lado de cá, que vejo de fora. E no reflexo do vidro não me reconheço...