segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Loucura.

Já dizia Fernando Pessoa "Sem a loucura que é o homem/ Mais que a besta sadia,/ Cadáver adiado que procria?". E tomando as suas divinas palavras, apresento aqui o mote destas linhas que aqui planto.



Loucura... Loucura é coisa de loucos! Desses que estão (ou deveriam estar) nos asilos, acorrentados à sua própria consciência, que assim vai definhando? Aqueles loucos, que ouvem vozes ou que falam sozinhos ou até psicopatas? Pergunto eu: a isso chamam loucura? Pois eu digo que loucura é pensarem que são eles aos quais me refiro! Louco, é aquele que sai dos padrões extremamente estandardizados que a sociedade impõe a si própria como se a própria liberdade a prendesse. Louco, não é com certeza um doente mental ou será talvez, se estiver mal diagnosticado por esses médicos frios, matemáticos, sufocados e automaticamente comandados pela mente (que lhes mente) que lhes consome todo o significado de loucura. Confusão louca esta?


Mas então que é esta loucura que não advém de nenhuma doença mental? Bem, se assim acontecesse todos teríamos de ser internados num hospício! Porquê? Ora porque somos todos loucos!


Mas o que é essa loucura que já me está a deixar louca? Se perguntasse a um homem (ou mulher) comum (um dos tantos sempre iguais como se tivessem todos saído da mesma fábrica e consoante as gerações, mais ou menos apetrechados e desenvolvidos) se é louco(a), automaticamente diria que não e provavelmente me tomaria a mim por louca por fazer tal pergunta e ainda por cima a um estranho! Ora burros são os que chamam loucos sendo que esse alguém também o é. De hoje em dia as pessoas fecharam-se numa concha e reprimem cada vez mais a sua condição de seres humanos. Hoje é mais importante ser rico, famoso, bem sucedido e bem aceite na sociedade do que encarnar as virtudes humanas. Mas que humanidade é esta? Que estranhos alienígenas nos tornamos? Que liberdade temos para sermos verdadeiramente Homens afinal? Que vontade esta de abafarmos a nossa condição, as nossas características, a nossa loucura! Esta loucura sobre a qual tenho estado a escrever.


E que loucura já vai neste texto! Mas este aglomerado de bestas sadias está em tal condição por ter renunciado à loucura! Mas que bestas que se julgam deuses superiores! Andamos aqui todos sobre o jugo da razão e do presente que nos esquecemos de ser quem somos. Culpa da sociedade? Não a culpo, porque a sociedade é um conjunto, cada um está entregue a quem é e cada um impõe a si o seu próprio jugo. E se é besta então a culpa é sua! Não dos outros!


Quem não é louco está morto, é o tal cadáver que anda aí a fingir que vive. Aí nesse dia-a-dia presente, identifica-se com um passado (que nada tem de seu) e espera por um futuro automatizado, digitalizado, matemático, calculista, esquematizado onde encontrará a eterna felicidade (tão podre como este cadáver).


Mas, meus amigos, este cadáver já nem procria! Aí Fernando Pessoa é obsoleto.


Mas então que é esta loucura de que estou aqui a falar à tanto tempo mas não vou dizendo nada acerca dela? Esta loucura, tão inerente ao Homem mas que este tenta apagar, como se nojo tivesse a isso, essa loucura é sonhar! Somos só um sonho e é de sonho que somos feitos, é de ilusões, de futuros sonhados que a vida nos leva à vida. E somos todos loucos, somos todos sonhadores! E saber tomar a loucura nas mãos, como loucos que todos somos. Não é andarmos aí dia e noite acordados, mecânicos, no turbilhão de ideias e acontecimentos ridículos desta realidade que nos vai tomando e sugando a nossa vida por cada fio de sonho, esperança e liberdade que ainda nos possa restar. Resta-nos a nós saber ser loucos e (sobre) viver.


E tu ó louco(a), já sonhas-te hoje?









"À parte disto tenho em mim todos os sonhos do mundo."


sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Gelo.

Caíram-me os dedos, gelados pelo sopro do teu beijo que tentei desesperadamente guardar nas mãos.

"(...)brincar aos amantes com jogos de amor."

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Ego(centrismo).

Não sei viver sem mim e sou ridicula assim, presa a um egocentrismo que me ecoa na cabeça e me estrangula a tua imagem (que ironicamente se parece comigo).





Queria abrir os olhos e ver que o mundo é todo meu e que num egoísmo estupido, caprichoso, eu fosse dele também.





Que parva, julgar este coração descompassado que faz girar o mundo em torno dele só porque sim, porque é meu.





E tu, (sim, tu que lês) porque me alimentas esta fome insaciável de me querer sempre a mim?






"(...)perco-me de amores pelo espelho, mas do outro lado nao está ninguém. E quem queria eu que estivesse? Pff! Ridiculo!"



sábado, 5 de dezembro de 2009

Barulhos.

os nossos risos foram abafados pelo barulho ensurdecedor do bater do meu gigante coração.

na ânsia desesperada de o calar, calei o teu também.

agora no meu peito reina o silêncio.





"(...)eu abro a dor de ser quem sou, de tudo amar."