domingo, 21 de fevereiro de 2010

Fecha a janela.

"-Feche a janela que está a começar a chover."

E contudo a velhota não a fechou, nem se moveu. Ficou a ver a intempérie que se abatia sobre um mundo tão velho e cansado que já nada fazia para se abrigar, que já nem sequer fechava a sua janela, nem tão pouco se movia perante o caos que nele reinava.

"-Minha mãe, feche a janela que ainda apanha uma pneumonia!"

Mas as mãos rugosas, caídas no regaço da velha senhora não se moveram. Aquele vento gélido e aquela chuva agreste que lhe batiam no rosto crespo de quem muito já havia vivido, faziam-na sentir um sopro de vida que lhe fazia esquecer alguém por que esperava.

"-Avó, que está a fazer?! Não vê o temporal que está a deixar entrar?! Feche a janela!"

Mas p'ra quê fechar a janela que tanto estimava? Era dali, daquela cadeira de baloiço adormecida colocada estrategicamente e não sem esforço perto daquela janela, que aquela idosa partilhava da velhice e do definhar de um mundo ainda mais velho e rugoso que ela. Não ia fechar a janela, mesmo que os seus membros desengonçados ainda o permitissem. Já não sentia os dedos tortos (que as artrites, quando se é velho, não poupam ninguem), já batia os poucos dentes que tinha e tremia mais ainda do que quando estava a bordar. Mas não se moveu, não soltou um suspiro nem chamou pela filha nem pelos netos. E a tempestade não dava tréguas, nem à pobre velhota! Gritou, bateu, rosnou, uivou, atacou com todas as forças aquela janela (que por sinal se aguentou bem). E a velhota lá estava a arcar com ela, ou melhor, a aceitar o convite do mundo que com ela queria partilha-la . Afinal, nunca se deve rejeitar um convite de um velho.

"-Mãe! Não acredito que está aqui nesta ventania e toda molhada! Está louca!" - e a filha da velha senhora foi finalmente fechar a janela.

No dia seguinte, a velhota ficou doente: era pneumonia. Morreu nesse mesmo dia, por sinal bem soalheiro e agradável. E aquela janela por onde partilhava o mundo nunca mais foi aberta.


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Eu tentei dizer.



Hoje não me consigo exprimir por palavras, mas deixo aqui tudo o que tenho a dizer.