domingo, 30 de maio de 2010

Assim.



Não encontrei razões racionais que me levassem a tentar descortinar o que nos envolve e revolve abruptamente nesta volúpia de corpos inertes. Nem senti sequer que devia abrir a janela e olhar lá para fora e ver o fantástico que é o mundo moribundo. Não achei mesmo necessário impedir a sua partida absolutamente estática perante o meu olhar desmesurado.





Não. Deixei-me ficar só assim, envolta nos teus (meus) braços.




sábado, 29 de maio de 2010

Aconteceu.





Não era suposto, mas aconteceu(-nos).


E nem demos por nada!






"Eu estava ali só porque tinha que estar
e tu chegas-te porque tinhas que chegar."

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Constança.

o sol queimava aquela pele de Inverno, nas escadas onde esperava. trazia vestido florido e lábios secos, mais um nervoso miudinho que fazia cocegas na barriga. esperava, perante o amontoado de gente que não tinha tempo para esperar e subia e descia as escadas sem reparos, suspiros ou ais. Constança esperava ora tendo as mãos guardadas no regaço ora segurando o queixo, numa clara atitude de aborrecimento e ansiedade. e a cidade quente e sonolenta não a ajudava. mas esperou ali até esmorecer a tarde soalheira e se fecharem os olhos à cidade e à pobre moça por uns instantes. já o sol lhe não beijava a pele agora queimada e Constança levantou-se, cruzou os braços e foi-se embora.

- porque esperas-te a tarde toda por alguém que não chegou, Constança?

- marquei encontro comigo mas acho que não quis aparecer... sou um bocado timida.


e fiquei muito tempo com cara de parva a olhar para aquela criatura de Deus.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

percebes?

seria insensato afirmar que não quero, mas cruel dizer-te que te quero numa loucura sôfrega.


mas é que eu não quero querer-te.



é como dizer que não está vento neste esvaziar de dia, mas ver as árvores dançar estaticamente na plena liberdade de movimentos delas.



vá lá alguém perceber estas linhas de pensamento (irracional) desalinhadas e completamente inúteis do ponto de vista filosófico.



não tens de fazer sentido, só tens de te abster de pensar numa linha recta sem fim e sem graça. salta, estremece, cai, faz-te de morto e grita: tudo ao mesmo tempo. e já agora, diz que me queres, mas sem me quereres, se não vou pensar que sou eu que estou tolinha. percebes?





ah! e muda essa cara de parvo que fazes ao ler isto. estas a chatear-me. obrigada.

domingo, 9 de maio de 2010

"(...) mas queres ficar?"








"Mais um dia em vão no jogo em que ninguém ganhou



Dá mais cartas, baixa a luz e vem esquecer o amor



És tu quem quer



Sou eu quem não quer ver que o tudo é tão maior



Aqui está frio demais para apostar em mim.



Vê que a noite pode ser tão pouco como nós



Neste quarto o tempo é medo e o medo faz-nos sós



És tu quem quer



Mas eu só sei ver que o tempo já passou e eu fugi



Que aqui está frio demais para me sentir... mas queres




ficar?



Queres levar



Tudo o que é meu



É tudo o que eu



Não sei largar







Vem rasgar o escuro desta chuva que sujou!



Vem que a água vai lavar o que me dói!



Vem que nem o último a cair vai perder."



Tiago Bettencourt, "O jogo"