quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Pastoreio.




Não basta, meus caros senhores e damas de respeito, para dar a ler a alma, debitar um punhado mal mastigado de palavras bonitas, airosas e eruditas.

E quem vem por aí dizer e argumentar filosofica e cientificamente (tão mais que tanto mente), que lê o espírito sagrado, intimo, secreto da pessoa, numa meia dúzia de palavras fingidas que mastiga e cospe poeticamente num blog, mais analfabeto é que o pastor lá da Terra Fria, que mal sabe articular um som como imagem do seu fio de pensamento puro.


Antes ser pastor e ler o mundo nas nuvens!




Ou ler o seu próprio mundo nas palavras emprestadas a um qualquer poeta.






E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as dores que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
- F. Pessoa, Autopsicografia

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Corpo.




O sabor salgado de um corpo mal amado
é tão mais doce que o mais doce pecado.
Esse corpo amorfo, obsceno, esgazeado,
não mais quer ver do que ser tocado
em deleite galopante no epiderme gelado.













Que mais é a alma, que não um corpo condenado?





Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.
- Jorge de Sena