Acordou submersa num mar de lençóis com um cheiro que não o seu e ao lado de um corpo ainda adormecido de um estranho.
Devagar assimilou toda aquela imagem e sem barulho saiu por entre as nesgas de sol que iluminavam o seu quarto agora apoderado pela criatura desnudada e que ressonava barbaramente e de boca aberta
Foi sentar-se na varanda. Aquele sol quente fechou os olhos ainda com sono e o vento matinal, ainda fresco, arrepiou-lhe a pele. E sorriu. Num espasmo de memória reviu a noite anterior.
Mas uma outra memória roubou-lhe as lembranças ainda mornas. E naquela manhã sem sabor, a saudade veio submergi-la no seu manto amargo. Ela era mais uma vitima do Outono e nem o Verão, que ocupava agora a sua cama a fazia ceder.
Foi então que o telefone tocou. Sabia quem era mas não afastou os olhos das casas lá longe. Até que parou e foi desligá-lo mesmo tendo o coração nas mãos por o fazer assim friamente.
Entrou de novo.
- Bom dia. Quem era?
- Ninguém, ninguém. Era engano.
E o estranho agora na sua sonolência desperta beijou-a e sorriu. Depois perguntou:
- Torradas?
Ela não pôde deixar de sorrir e acenar que sim. Ele saiu em direcção à cozinha e ela ali ainda, provou o travo agridoce da liberdade daquela manhã saudosa.
E até comeu as torradas abraçada ao estranho. E não lhe souberam nada mal.
My morning yearning...