É tempo de luta e tempo não há p’ra lutar!
E tempo e luta que não temos, comem eles ao jantar.
Morre o Povo à fome e fome p’ra lutar!
Cautela filhos do homem aí no altar.
Filhos da Terra, tempo é de cantar!
Abril não colhe frutos, há que os plantar.
O tempo urge no seu esperar.
Vem nobre português com coragem de mar!
De peito aberto, galga os lajedos;
De haste em punho, contra torpedos;
Corta o silêncio, destrói vãos enredos;
Anda Povo, marchar sem medos!
Anda Povo, marchar sem medos!
Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada hà covas feitas no chão
E em todas florirão rosas de uma nação.
- Zeca Afonso, "A morte saiu à rua"