domingo, 20 de janeiro de 2013

Às palavras.








Que se quebrem os votos de castidade!
Tragam-me a volúpia toda das palavras
Todas, nesse grande cálice da vaidade.

Dai-me a provar o sabor das mãos tão frias
Neste inverno demasiado, que mas sequestrou.
Deixai-me dar à luz as tão impuras crias.

Quero beber num trago todo o excesso que sou,
Romper as tranças em que o convento me tomou.
Hoje sou toda alma carnal, e às palavras me dou. 

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ao mar.




Trago os lábios salgados
Pela maresia da tua pele.
Os sentidos embriagados
Pelas marés nos teus olhos.
E os pensamentos molhados
Pelas ondas da tua voz.

Das tuas encostas trouxe canela,
Cravo, pérolas e marfim.
Nas tuas praias deixei a vela,
O leme, o mastro e o esporão.
A mim fizes-te-me caravela,
Meu astrolábio, meu capitão.








quarta-feira, 27 de abril de 2011

Não (te) escrevo.

 
 
 
Numa contradição aparente, eu, eterna amante das palavras, não te escrevo.





(escrevo antes,
nas linhas do teu corpo,
 palavras invisíveis aos olhos que não os nossos.)










domingo, 17 de abril de 2011

Tururururu ruru.



"E com um brilhozinho nos olhos
Tentámos saber
Para lá do que muito se amou
Quem eramos nós
Quem queriamos ser
E quais as esperanças
Que a vida roubou
E olhei-o de longe
E mirei-o de perto
Que quem não vê caras
Não vê corações.
(...)"

- Sérgio Godinho, Com um brilhozinho nos olhos




sábado, 9 de abril de 2011

Credos.

 
 
Quisera querer-te menos
E menos querer teria em querer-te tanto
Como quero.






-Crês-me, meu amor, na medida em que te quero?

sábado, 2 de abril de 2011

Compreensão.


Deixemo-nos de palavras gastas, vagas, desprovidas de sentidos literais ou literários.

Deixemos as folhas em branco:  interrogação constante sobre o que deveria ser escrito, "dito", expresso, impresso, riscado ou (in)conscientemente apagado.


Deixemos de nos traduzir, em sentidos duplos e subjectivos, em caracteres desenhados, dactilografados, pintados, redigidos numa letra perfeitamente delineada.

Deixemos de escrever todo o tipo de qualquer texto ou não texto, que possa ser entendido minimamente por qualquer membro de uma sociedade escrava de uma literacia enganosa.





Paremos.



- Que o silêncio de uma folha de papel também tem o direito a ser
lido,
 interpretado,
digerido
e dignamente estudado.
(E quem sabe, na sua falta de possível compreensão, compreendido.)







- Querias dizer alguma coisa?

quarta-feira, 16 de março de 2011

Tão minha (tão tua).






Sei muito bem, amor, ser minha.




Não sabia era que sabias tão bem
 (apenas tu)
fazer-me a mim
(tão minha),
tão tua.


.

quinta-feira, 10 de março de 2011

(Des)entendimentos.




Trago a Razão a bater-me no peito
E um Coração bem consciente
Da inconsciência de que és feito.













"Me and you what's going on?"

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Maresias.



Mar revolto trago abrigado neste peito.
Mil naufrágios guardo, sem ponta de despeito
A quem em mim vê a sua própria tormenta,
Essa maré sem rédea, que este coração acalenta.                                  






Mas sempre vieste enfim, na volta da maré...
E à tormenta que me atormenta, 
trazes bonança e um pouco de fé.


(meu Capitão Romance).
.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Ça sert a quoi?







Não peças a este coração desafinado mais que uma melodia a dois, condensada num suspiro.
(Shiu, ela não pode ouvir-nos.)






- Ça sert a quoi l'amour?

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Perfect.





"I know we're just like old friends
We just can't pretend
That lovers make amends
We are reasons so unreal
We can't help but feel that something has been lost


But please you know you're just like me
Next time I promise we'll be perfect


Perfect
Perfect strangers down the line
Lovers out of time
Memories unwind


So far I still know who you are
But now I wonder who I was...


Angel, you know it's not the end
We'll always be good friends
But the letters have been sent on


So please, you always were so free
You'll see, I promise we'll be perfect
Perfect strangers when we meet
Strangers on the street
Lovers while we sleep


Perfect
You know this has to be
We always we're so free
We promised that we'd be
Perfect
Perfect
Perfect..."



 
Tu fazes de conta
E eu finjo que acredito em ti.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Definição de amor.

amor, s.m. sentimento que nos impele para o objecto dos nossos desejos; objecto da nossa afeição; paixão; afecto; inclinação.





(E as palavras lamechas?
E os corações galopantes?
E o calor de um beijo roubado?
E as promessas da eternidade vã?
E o fulgor de um toque improvisado?
E o sorriso que se escapa e se funde noutro igual?
E o ridículo fluir de reacções químicas no cérebro e no corpo?)





O dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, 6ª edição não sabe nada sobre o amor.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Torre de marfim.







O teu querer-me tanto, desmesurado,
deixa-me sem querer voltar sóbria a mim.
É que o amor que me trazes, já usado,
prende-me a alma numa infinita torre de marfim.

Medras caminhos escuros, o mar ousado,
matas bestas, corres mundos sem fim!
E eu nesse castelo em quimera inventado,
espero por quem não queira querer-me, enfim...




quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Pastoreio.




Não basta, meus caros senhores e damas de respeito, para dar a ler a alma, debitar um punhado mal mastigado de palavras bonitas, airosas e eruditas.

E quem vem por aí dizer e argumentar filosofica e cientificamente (tão mais que tanto mente), que lê o espírito sagrado, intimo, secreto da pessoa, numa meia dúzia de palavras fingidas que mastiga e cospe poeticamente num blog, mais analfabeto é que o pastor lá da Terra Fria, que mal sabe articular um som como imagem do seu fio de pensamento puro.


Antes ser pastor e ler o mundo nas nuvens!




Ou ler o seu próprio mundo nas palavras emprestadas a um qualquer poeta.






E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as dores que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
- F. Pessoa, Autopsicografia

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Corpo.




O sabor salgado de um corpo mal amado
é tão mais doce que o mais doce pecado.
Esse corpo amorfo, obsceno, esgazeado,
não mais quer ver do que ser tocado
em deleite galopante no epiderme gelado.













Que mais é a alma, que não um corpo condenado?





Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.
- Jorge de Sena

terça-feira, 16 de novembro de 2010

(já) É tempo!



É tempo de luta e tempo não há p’ra lutar!
E tempo e luta que não temos, comem eles ao jantar.
Morre o Povo à fome e fome p’ra lutar!
Cautela filhos do homem aí no altar.


Filhos da Terra, tempo é de cantar!
Abril não colhe frutos, há que os plantar.
O tempo urge no seu esperar.
Vem nobre português com coragem de mar!


De peito aberto, galga os lajedos;
De haste em punho, contra torpedos;
Corta o silêncio, destrói vãos enredos;
Anda Povo, marchar sem medos!







Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada hà covas feitas no chão
E em todas florirão rosas de uma nação.
- Zeca Afonso, "A morte saiu à rua"



domingo, 14 de novembro de 2010

Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain.




"-Sans toi les émotions d'aujourd’hui ne serait que la plus mort des émotions d'autre fois!

-Billets s'il vous plaît."














"Le temps sont durs pour les rêveurs."

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Questão de tempo.



Ansiei um passado
que o presente não espera
que venha a ser futuro escrito em búzios embruxados.


Esse presente

que pertence ao passado,
 esperando fazer dele futuro (nem ele sabe bem quando),
 é meu agora.
E já passou. 




É tempo de acertar o tempo.







O tempo perguntou ao tempo
Quanto tempo o tempo tem.
O tempo respondeu ao tempo
Que o tempo tem tanto tempo
Quanto tempo o tempo tem.

sábado, 6 de novembro de 2010

Juliet.



"They may seize
On the white wonder of dear Juliet’s hand
And steal immortal blessing from her lips,
Who, even in pure and vestal modesty,
Still blush, as thinking their own kisses sin."


-William Shakespeare






quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Mal maior.




Trazer ao peito muitos corações não sincronizados, faz mal ao Coração.





Sentir demais é um mal maior.